O que fazemos com a fé é muito importante. Se algo é digno de ser crido, é digno de ser vivido. De ato, a fé bíblica implica em obediência.
A
fé bíblica traduz-se em discipulado. Não crê aquele que não vive consoante à
sua crença. “Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta”
(Tg 2.17). Um pressuposto da pregação da Palavra de Deus é que o propósito
subjacente a toda doutrina é garantir a ação moral. Aprendemos por simples
verificação semântica que teologia é conhecimento de Deus. Sua teologia
consiste naquilo que você é quando para de falar e começa a agir. Deus quando
nos instrui a mente, Ele o faz para transformar a vida. Aliás, este é o alvo do
ensino, e a lei do processo de aprendizagem estabelece que o aluno deve
reproduzir, em si próprio, a verdade aprendida. E vivendo a verdade, nossas
próprias vidas se tornam verdadeiras. Nós nos tornamos o que devemos ser.
Precisamos de
homens com fé inabalável na Palavra do Senhor, com coragem para tomar posição
em sua proclamação e defesa, com disposição e tenacidade para assumir os custos
de tal decisão.
Uma
fé digna de ser crida é digna de ser proclamada. Novamente recorro a Spurgeon,
que disse: “Os homens, para serem verdadeiramente ganhos, precisam ser ganhos
pela verdade”. Hoje a teologia é vista como reflexões dos ambientes eruditos,
aprisionada nos recintos acadêmicos dos seminários. Faz-se uma grande
dissociação entre o conteúdo dos compêndios empoeirados das bibliotecas dos
teólogos e a ação pastoral na igreja e a vivência comum do crente com Deus. Não
tenhamos o mínimo interesse numa teologia que não promova o ardor por Deus; não
tenhamos qualquer interesse por uma
teologia que não evangelize e uma fé que não seja missionária.
A
verdade precisa ser proclamada, não importa como seja recebida. E deve ser
proclamada, antes de tudo, porque é a Verdade de Deus. Proclamar a Palavra
glorifica o seu santo Nome. A pregação é sem dúvida um bem eterno. Essa foi a
conclusão dos apóstolos quando elegeram “os sete”. O bem que se faz aos homens
é passageiro; as verdades que lhes deixamos são eternas.
Uma
fé digna de ser crida é também digna de que batalhemos por ela. O melhor método
para a erradicação do erro ainda é publicar e praticar a verdade. Precisamos
tornar clara nossa posição, com palavras e obras, em favor da verdade e contra
as falsas doutrinas. Quase sempre, é no vácuo deixado pela negligência e
descaso em proclamarmos “todo o conselho de Deus” que proliferam as
seitas e heresias. Quando a verdade silencia, as opiniões falsas parecem
plausíveis. A verdade amordaçada é uma contradição e impropriedade, pois a
verdade é sempre o argumento mais forte.
“Sê
fiel até à morte.” Não foi este o lema dos mártires desde Estêvão?
“Senti
a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez
para sempre foi entregue aos santos” (Jd 3).
No
eminente e constante desafio de estar comprometida com a fé que foi entregue
aos santos, esta revista se apresenta ao leitor. Fazemo-lo com humildade, reverência
e tremor. Mas fazemo-lo varonilmente.
Neste
primeiro número trazemos o artigo O Perfeito Equilíbrio da Verdade de Deus,
onde Geoffrey Thomas, integrante da equipe editorial do The Banner of Truth
Journal e pastor batista no País de Gales, procura estabelecer um
equilíbrio entre algumas verdades que, aparentemente, encontram-se em conflito
umas com as outras. Em determinados momentos da história da Igreja, os
verdadeiros servos do Senhor tenderam a enfatizar certas doutrinas em
detrimento de outras. A geração seguinte
reagiu
contra essa ênfase da geração precedente, e assim aconteceu o fenômeno que
alguns historiadores denominam de “movimento pendular”. O autor é feliz na sua
exposição, ao propor um equilíbrio em alguns dos pontos fundamentais da fé e
prática cristãs.
O
Supremo Dever do Pastor é um artigo do Dr. Thomas K. Ascol, pastor batista
em Cape Coral, Flórida, e editor do The Founders Journal. Qual o supremo
dever do pastor? Salientando os diversos aspectos que envolvem o ministério
pastoral nos tempos atuais, o autor encontra, no emaranhado de
responsabilidades que ao pastor se atribui, o dever de pregar a Palavra de Deus.
Seu artigo é muito oportuno, mormente nesses tempos em que vozes e movimentos
questionam acerca da relevância da
pregação
bíblica, nos dias atuais.
A.
W. Tozer, pastor de uma igreja da Aliança Cristã e Missionária até seu
falecimento na década de 1960, é conhecido como “um profeta da nossa geração”. Seus
artigos Precisaram Novamente de Homens de Deus, é uma convocação a
agradar a Deus e ignorar a multidão, numa geração pragmática e materialista. A
voz de Deus é a voz de Deus. A voz do povo é a voz do povo. Quão
desesperadamente precisamos hoje dessa mensagem. Deus está procurando homens
que tenham a coragem de tomar posição e assumir o preço dela, no meio desta
geração. Na decadente era pré-diluviana, Ele encontrou Noé. O mundo está
necessitando novamente de homens como Noé - “pregoeiro da justiça” - a quem o
Senhor disse: “Tenho visto que és justo diante de mim nesta geração” (Gn
7.1).
Em
Quanto ao Vir a Cristo, Ernest Reisinger, veterano pastor batista na
Flórida e editor assistente do The Founders Journal, analisa os fundamentos
histórico-teológicos de uma das práticas mais comuns à chamada “pregação
evangelística” contemporânea: o sistema de apelo. O autor, numa análise
acurada, apresenta os perigos e equívocos em torno desta prática (inaugurada
por Charles Finney), entre os quais, a freqüente associação e/ou permuta que se
faz entre a regeneração operada pelo Espírito Santo e um ato físico exterior. É
um artigo que se enseja bastante oportuno. O que temos nesta edição, contudo, é
apenas a primeira parte. Aguarde a conclusão no próximo número.
Em
Sansão e a Sedução da Cultura, Roger Ellsworth nos adverte quanto ao
perigo de nos tornarmos enamorados e, deste modo, divididos pela cultura. Ele o
faz de maneira bastante ilustrativa, recordando-nos a história de Sansão e seu
encanto por Dalila. Ellsworth conclui seu artigo, alertando sobre o dever de
permanecermos fiéis e não nos deixarmos seduzir pela cultura que, por Deus, fomos
chamados a influenciar.
Dois
pequenos artigos complementam o conteúdo deste número. Pequenos, mas nem por
isso de menor importância. Outro Evangelho é um artigo que se revela
bastante atual. Foi extraído dos escritos de A.W. Pink, teólogo reformado falecido
em 1952. Trata desse “evangelho” atual cuja maior aspiração é paz, unidade e
irmandade. A mensagem desse evangelho objetiva tornar o mundo tão confortável e
um habitat tão harmonioso, que a ausência de Cristo não será percebida,
e a necessidade de Deus não existirá. As Implicacões do Livre-arbítrio,
citado de C. H. Spurgeon, faz breve análise do conceito humanista do
livre-arbítrio em contradição com a doutrina bíblica da livre agência do homem.
O que pensamos sobre livre-arbítrio? Como isto se relaciona com a vontade soberana
e a graça eficaz de Deus? Não estaremos colocando o homem onde Deus deve estar?
Uma
de nossas expectativas é que essas leituras estimulem o leitor a batalhar pela
fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos.
Não é coisa
pequena ficar em pé diante de uma congregação e dirigir uma mensagem de
salvação ou condenação, como sendo do Deus vivo, no nome
do nosso
Redentor. Não é coisa fácil falar tão claro, que um ignorante nos possa
entender; e tão seriamente que os corações mais desfalecidos nos possam sentir;
e tão convincentemente que críticos contraditórios possam ser silenciados.
Richard
Baxter
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